Home Office e a Mulher de César

Essa imagem viralizou lá no Linkedin

Como designer, sempre fiquei impressionado com imagens que a primeira vista podem parecer simples, mas conseguem gritar mensagens poderosas!

Primeiramente sinto-me obrigado a situar o leitor de que o artigo que você esta prestes a ler é puramente a minha opinião baseada nas minhas próprias experiências a respeito de mercado, não sou um especialista em administração e tão pouco dono de qualquer empresa.

Dito isso, falemos um pouco sobre o porquê o Home Office não é aceito pela maioria das empresas e um pouco da suja realidade que as permeia.

Home Office, por que não?

A primeira pergunta que o trabalhador faz (justamente, na minha opinião) é: “Por que as empresas resistem tanto para liberar o Home Office?” e se a resposta for do dono, diretor ou pior ainda, do gerente (treinado para achar que é dono, bem ao estilo do 'Snow Ball' de Django Livre), você ouvirá uma gastação de termos administrativos cansativos e no final bobos e sem sentido que servem só para cansar o ouvinte.

Por trás de todas essas respostas fantasiosas, a resposta verdadeira é: “Este 'beneficio' vai se transformar em lucro como?”

Snow Ball, personagem em Django Livre, era um escravo doméstico que literalmente dava sua vida pelo patrão. Na história de Quentin Tarantino, o escravo se via em condição superior a de seus colegas por ter o 'privilégio' de dormir no porão da casa-grande, além do poder de entregar e punir outros escravos, em suma, o gerente.


A verdade é que muitas empresas não enxergam o benefício do home-Office na vida dos seus funcionários e outras de fato não estão prontas para ele.

Um ponto que deve ser salientado é que uma empresa que não esta pronta para o home office muitas vezes não esta pronta nem para ser uma empresa e empurra seus problemas para a vida de aparências do mundo corporativo.

Vamos falar sobre isso.

“Não basta ser a mulher de César…”

Anos atrás conheci uma certa empresa…

A empresa, uma universidade particular (as famosas “unis-etc”) e aqui cabe uma informação a respeito desas instituições, elas não se preocupam com educação.

Sabe aquele fetiche esquerdo-capitalista que vemos por aí, empresas enxurrando seu marketing de ações que as mostram como instituições progressistas, humanizadas, que valorizam as minorias, etc. Mas que la dentro a situação não é bem assim? (Às vezes é até oposta, com casos de assédio sexual/emocional, racismo, microgerenciamento, etc.)

Então as “unis” são assim, só que com educação, afinal esse é o negócio delas, então elas têm a obrigação de se posicionar como especialistas no assunto (afinal, você compraria carne em um açougueiro que entende de carne ou de um administrador de empresas?).

A verdade é que elas não são especialistas em educação (mas vão tentar te convencer que são), a que estou falando, em particular, era uma empresa herdada e seu dono a fazia de playground. Formado em administração, não tinha a menor noção de processos pedagógicos e nunca escondeu que seu objetivo principal era o lucro.

Mas o que isso tem a ver com o assunto? Estamos falando aqui em viver de aparência.

Nesta empresa em particular existia um forte microgerenciamento, exigindo pontualidade ao entrar e muitas horas-extras não remuneradas. No ambiente de trabalho era permanentemente proibido comer durante o expediente (se quer uma bolachinha água e sal para não desmaiar durante o dia), também não era incentivada a amizade entre os funcionários, conversar durante o expediente? Há, era pecado grave pago com ação disciplinar!

O dono possuia seus gerentes, que tal como comensais da morte rondavam cada setor para ver se os funcionários estavam todos "IBMzados". 

Sobre esse comportamento, um antigo gerente, um idoso senhor nipo-brasileiro totalmente institucionalizado, defendia com a seguinte frase: “Não basta ser a mulher de César, tem que parecer a mulher de César.”, será?

 A queda… (e fora dos Stories?)

“Aqui a gente vai armar um circo, um drama, um perigo…”


A verdade é que fora desse mundo de aparências a coisa não ia bem, com a aprovação do MEC para criação de novos cursos o nosso “Elon Musk Tupiniquim” viu uma oportunidade única de aglomerar pessoas e endividá-las em troca de diplomas.

No final, a faculdade teve que realizar demissões em massa de funcionários e professores, a infraestrutura que já não era boa ficou pior com o acúmulo de funções despejadas em cima das “mulheres de Cesar” (cuja especialidade era apenas 'parecer mulher de César'). Reclamações no suporte, processos, “Reclame aqui” e o nosso pobre-rico administrador-herdeiro foi obrigado a fazer uma Live depois do escândalo da demissão em massa de professores, um desesperado tiro no próprio pé.

A verdade é que viver de aparências não é sustentável, as empresas que fazem isso cedo ou tarde caem, ou são obrigadas a voltar a mostrar sua verdadeira face… Uma face velha, feia e purulenta, tomada pela lepra do capitalismo predatório.

Para estas empresas o home-Office não funciona, elas não sabem medir resultados por entrega e precisam micro gerenciar, precisam “sentir” que o funcionário esta trabalhando e esta sensação se perde no home-Office.

A maioria das empresas que resiste ao home-Office não confiam nos seus funcionários, não confiam no seu departamento pessoal, contratações, não sabem medir entregas individuais e se mantém vivas do “velho-jeito”:

Se os funcionários parecem estar trabalhando e o dinheiro está entrando (mesmo que a qualidade do serviço esteja péssima) esta tudo bem!

Conclusão

Por trás de desculpas como “Não se faz cultura no home-Office” ou “O funcionário não entrega em casa como entrega na firma” está velado tudo o que você leu nesse texto. 

Por que ao invés de obrigar o funcionário a estar presencialmente não criar uma cultura forte no próprio home? 

Como? Diminua o número de reuniões corporativas que não chegam a lugar nenhum e só servem para inflar o ego e alimentar o sonho de crescimento de “carreiristas”. Crie mais encontros (virtuais e presenciais) sem temática corporativa, coffe break's são bem vindos!

Busque medir o resultado individual por meio de one-a-ones estruturados semanais ou quinzenais, incentive o colaborador a pautar suas entregas (quantas tarefas foram feitas, quais foram as dificuldades e o que se aprendeu com elas), tenham gerentes que não sejam apenas gananciosos, mas que gostem de lidar com pessoas e liderar (que é diferente de chefiar).

Contrate por perfil não somente por experiência, soft skill é intrínseco, hard skill se ensina, uma pessoa com garra e objetivo, vontade de aprender e tenha visão de time, vale muito mais do que um especialista que só se importa com o seu salário no fim do mês.

Mudar não é fácil, mas é preciso e o cenário está em constante mudança. Os ventos de uma nova era tocam as faces do mercado e você construirá sua casa (empresa) com madeira, que apenas parece forte, ou com tijolos?

Não se esqueça, até o império romano caiu.

P.S. Lembram do dono daquela uni que citei? Forçado a ter uma formação educacional para justificar suas ações mesquinhas, ele fraudou o sistema da própria universidade para conseguir um diploma de pedagogia.



Infelizmente nem todo “César” é um gênio.

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